Trecho 2 — E.Q.M.

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Observe atentamente, pois o que vou revelar agora é a coisa mais estranha, uma experiência sobrenatural. Decidi compartilhar isso, pois sei que você, diário, vai me entender. Meu psicólogo diz que o que está acontecendo é um transtorno pós-traumático devido ao acidente, e o que eu penso ter visto nada mais é que uma experiência de quase morte, a famosa E.Q.M. Mas eu sei o que eu vi! Não foi uma alucinação! Não tinha variação de pensamento! Eu estava lá!

Entenda: eu não tinha corpo, mas eu sentia como se tivesse. Eu ouvia, via, mas não conseguia falar. Era como se fosse um grande espaço bastante iluminado. Na hora, não tive muita definição do que se tratava, e as coisas iam se formando devagar, como se eu estivesse cego e fosse enxergando aos poucos. Enquanto eu ia tentando de alguma forma melhorar minha visão, eu escutava algo como se fosse um tribunal e pude perceber que estavam tratando de mim, sobre qual seria meu destino.

Eu sentia meu cérebro, e as palavras faladas por eles se formavam em minha mente conforme o meu entendimento. Não era uma comunicação por voz, e por isso, compreendi apenas parte do que se tratava. No alto do tribunal havia um homem maior que os outros, ele parecia ser feito de luz. Os outros também eram de luz, mas a luz do grande homem era mais resplandecente. Do lado direito do grande homem estavam aproximadamente setenta homens, e um deles parecia ser o líder, o qual falava algumas palavras como: "Não, morte, filho, humanidade." Não entendia muito bem, pois minha compreensão variava bastante, e eu não estava acostumado com aquele tipo de comunicação.

Pensei então que eu havia sido abduzido por alienígenas ou que havia morrido. Eu não sabia o que estava acontecendo e preferi esperar, já que nem me mover eu conseguia. Do lado esquerdo do grande homem, havia vários outros homens de luz, aproximadamente um terço da quantidade que havia do lado direito, mas sua luz era fosca, como se já tivessem sido resplandecentes e não resplandecessem mais. Eles não olhavam em direção aos homens de luz e estavam sempre com a cabeça baixa, conversando olhando para os pés dos homens resplandecentes. Eles falavam algo como: "Acidente, morte, todos."

Naquele mesmo momento, passei a sentir parte do meu braço esquerdo e uma forte ardência adentrando minha veia até chegar em meu coração. Percebi então que eu estava ligado a uma dimensão entre a vida e a morte. De repente, o grande homem de luz tomou a voz, e todos se curvaram enquanto ele falava. Tudo que consegui entender foram as palavras: "Antes, filho, vive, nasce, morre." Naquele momento, ouvi de longe um apito contínuo e intenso, ao mesmo tempo que o grande homem levantou a mão direita, e em grande velocidade, voltei para dentro do meu corpo, onde descobri que o apito era do medidor de frequência cardíaca, indicando minha morte. No entanto, eu já havia voltado, e o aparelho normalizou.

Como eu já sabia do que se tratava, tentei levantar e explicar a todos o que estava acontecendo, mas, devido às lesões, eu não conseguia falar nada. Fui tentando falar aos poucos, e, ao terceiro dia, eu já estava falando com dificuldade, mas já dava para compreender. Ao conversar com Sarah, percebi que o que parecia ter acontecido em minutos levou sete dias, e então considerei duas possibilidades: a primeira era que, por eu estar sob efeito de fortes remédios, tudo aquilo foi uma alucinação, e a segunda, mais evidente pelo fato da ordem dos acontecimentos, era que o tempo dos homens de luz era diferente do nosso tempo.

Eu, que sempre ri e critiquei a teoria das cordas, finalmente via a expressão “mundo paralelo” começando a fazer sentido para mim.