Trecho 3 — O Diário de David
Entre soluços e pausas para recuperar o fôlego, Sarah confessou que cedeu à pressão e à tristeza, buscando desesperadamente preencher o vazio em seu coração ao conceber o filho. Suas palavras carregavam o peso de anos de silêncio e resignação, enquanto ela admitia que o filho não era meu. A dor em seu rosto era palpável, misturada com um arrependimento sincero e o desejo desesperado por redenção. Ela me suplicou por uma segunda chance, prometendo que desta vez as coisas seriam diferentes, que ela seria diferente. Seu pedido de perdão ecoou no ar, envolvendo-nos em uma atmosfera carregada de emoções conflitantes, esperando pela minha reação diante dessa revelação devastadora.
Naquele momento de descoberta, uma sensação de vazio se instalou em meu peito, como se todas as cores da vida tivessem desbotado, deixando apenas tons de cinza em seu lugar. Meus sentimentos, que antes eram como flores vibrantes no jardim da minha alma, murcharam como pétalas esquecidas ao sol do meio-dia. Era como se eu estivesse olhando para o mundo através de uma lente desfocada, onde os contornos se perdiam na obscuridade da minha desilusão.
A raiva que antes queimava em meu peito como uma chama voraz, agora era apenas uma brasa apagada, uma lembrança distante do calor que um dia me consumira. O amor que nutria por Sarah, tão intenso e profundo, transformou-se em um vácuo emocional, uma ausência fria onde antes pulsava meu coração. Não desejava vingança, tampouco ansiava pelo retorno do afeto perdido. Era como se meu coração tivesse se tornado uma pedra, incapaz de sentir qualquer emoção genuína. Não era que eu tivesse me tornado insensível, mas sim que a lente através da qual via o mundo havia sido embaçada pela decepção. Não desejava o mal de ninguém, nem tampouco o bem. Tornei-me um espectador distante da minha própria vida, observando os eventos se desenrolarem diante de mim com uma indiferença resignada. Afinal, o que eram as emoções se não meras ilusões passageiras em um universo regido pela fria lógica da realidade?